quinta-feira, 23 de abril de 2015

Vingadores 2: A Era do Medo





Já que está todo mundo falando, vamos falar de Vingadores.

Já andamos fazendo um esquenta lá no Interligados, mas depois de ver o filme, impossível não comentar.

E como eu sempre prefiro os vilões, comecemos por ele: Ultron!

Ultron, o Robô Louco, foi criado por Roy Thomas e John Buscema em 1968 e sua primeira aparição em Avengers #54. A primeira versão de Ultron foi construída por Henry Pym, o Homem-Formiga original. O genial cientista fazia experiências com robôs superinteligentes, ainda quando não tínhamos exatamente o conceito de inteligência artificial,  quando sua criação adquiriu consciência e se rebelou. A mente de Ultron foi mudada a partir das ondas cerebrais de seu mestre Henry Pym. Depois de ser rebelar, o robô apagou sua própria origem da mente de seu criador e fez uma séries de upgrades em si mesmo e posteriormente tivemos várias versões de Ultron.

Pelo época de sua criação, não podemos deixar de fazer o paralelo com o HAL de 2001: Uma Odisseia no Espaço. 

Ultron sempre foi um dos grandes vilões da galeria dos Vingadores, voltando em versões cada vez mais inusitadas e com os upgrades tecnológicos mais surpreendentes. É como se cada novidade de sci-fi para produção de alguma tecnologia pudesse ser incorporada pela inteligência artificial de Ultron e sua necessidade de um corpo físico mais e mais evoluído. 

Ultron deseja evoluir, transcender seu criador e sua espécie. 

Nesse ponto, podemos falar do Ultron do cinema e as mudanças de sua origem para mudar o cenário do universo cinematográfico da Marvel.

Vingadores 2: Era de Ultron é a consequência de tudo que aconteceu nos filmes anteriores. A Batalha de Nova York mudou tudo. A Terra descobriu pela televisão que existe vida alienígena inteligente e que eles são como sempre foram mostrados no cinema de sci-fi: perigosos conquistadores. Como Tony Stark foi o único que passou pelo portal gerado pelo Tesseract e viu o poderio Chitauri, desenvolveu uma série de processos psicológicos de medo e necessidade de preparar o futuro. Homem de Ferro 3 mostra parte dessas consequências com a necessidade desenvolvida por ele de proteger a mulher que ama das reminiscências de sua vida pregressa. O programa da armadura para proteger Pepper Pots é uma prova disso. 

Temos um Tony Stark que ainda carrega a culpa das vidas que destruiu como fabricante e vendedor de armas e encara o sentimento de impotência diante de ameças cada vez maiores e mais perigosas. Isso o faz angariar para si a responsabilidade de proteger o mundo e desenvolver os meios para isso, como se isso fosse a maneira de sanar a dor que causou e redimir sua irresponsabilidade e ignorância em relação ao seu papel no mundo, como humano, empresário e herói.

Perceber que não poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo o leva a criar um pequeno exército autômato para ajudar os Vingadores em suas missões contra a HIDRA e demais ameaças. 

Nesse ponto, o centro de Loki tem papel fundamental e, a partir dele, Tony e Bruce Banner começam a desenvolver uma inteligência artificial que pudesse fazer o que eles não podem: estar em todos os lugares e colocar uma "armadura" em torno da Terra. 

Dessa forma, o medo do fracasso, o medo da perda, e o medo de repetir os erros do passado leva Tony Stark a, acidentalmente, criar Ultron. 

Ultron a partir desse momento se torna o mais próximo de um Cylon de Battlestar Galactica, a criatura que deseja seguir parte de seu programa original e determina que para haver paz deve haver evolução. E no melhor darwinismo, evoluir ou morrer, se adaptar ou deixar de merecer a existência e, assim, Ultron busca os meios de ser, para a raça humana, o que aquele grande meteoro foi para os dinossauros. 
O Ultron de Josh Whedon não é o mesmo robô louco megalomaníaco dos quadrinhos. Há momentos em que ele está confuso, divaga, e deixa escapar a necessidade de se provar melhor que seu criador, como um filho que não deseja estar à sombra do pai, lembrando a máxima de que os filhos devem matar os pais para serem autossuficientes e adentrarem a vida adulta. No nosso desenvolvimento isso é subjetivo e metafórico, representado com o momento em que laços são cortados, como quando se sai de casa para formar o próprio núcleo familiar ou para criar a própria história em carreira e vida. Ultron quer realizar isso de forma real, matando o criador e assumindo seu lugar, se mostrando a evolução lógica de uma espécie. 

Em suma, um cylon. Uma Skynet. A Matrix. 

E em seu desejo de superar o criador e evoluir, fornece os meios para a criação do Visão. 

Nos quadrinhos, o Visão é um sintosóide criado por Ultron para ser a forma de vida perfeita e enfrentar e destruir os Vingadores, mas ele se volta contra o seu criador ao tomar consciência real do certo e do erado, ao desenvolver uma moral humana. No filme ele é criado como um invólucro. Mais que isso é spoiler. Mas temos um Paul Bettany vermelho que ficou muito legal. 

E mantendo o mito do herói, todos na equipe acabam por ter que lidar com seus medos e sair melhores, preparados para enfrentar um inimigo que os sobrepujou e manipulou e, mais que isso, os afronta com suas falhas, seja explorando a culpa de uma assassina ou as responsabilidades do herdeiro de um trono cósmico ou a culpa de um monstro. 

Temos um gavião arqueiro que se torna uma peça de coesão, revelando uma face que só é vista no Gavião Arqueiro agente da S.H.I.E.L.D. do Universo Ultimate da Marvel. É inesperado, e de certa forma, deslocado, o momento da apresentação de um lado de Clint Barton que ninguém conhecia, como um Batman revelando para uma Liga da Justiça perplexa que é Bruce Wayne e que já sabia as identidades de cada ("Claro que sei quem são. Eu não trabalharia em equipe com quem não conheço"). Até o momento da "mensagem" do filme em que faz piada sobre ser o homem sem poderes com um arco é interessante, embora meio piegas. Mas heróis são chatinhos, mesmo. 

A fadiga na relação entre Steve Rogers, o Capitão América, e Tony Stark se desenvolve desde o começo do filme, plantando as óbvias sementes para Capitão América 3: Guerra Civil. Algumas são sutis, outras escancaradas, mas estão todas lá. A frase "O homem que queria uma família e tudo mais... eu acho que morreu há 75 anos" mostra um novo Steve Rogers, rompendo com seu passado e assumindo deveres de seu papel como soldado e protetor, meio, talvez, deixando as ilusões de lado para ver o mundo como ele é e não como deveria ser, numa alusão, quiçá, ao discurso de Nick Fury em Capitão América 2: Soldado Invernal. 

Temos vislumbres do passado da Viúva Negra, de como Natasha Romanoff passou pelo projeto Viúva Negra para se tornar A Viúva Negra, e seu jeito de buscar deixar um passado negro para trás, mas, como um Tony Stark, lembrando que o passado existe para assombrar. Sua relação com Bruce Banner, o Hulk, evoluí de forma nítida para o que ela mesma parece classificar como uma união de monstros. 


A participação dos gêmeos Maximoff é interessante e, verdade seja dita, Mercúrio tem uma participação mais apagada, quase como se estivesse ali apenas para fazer número e me parece pouco aproveitado. No decorrer do filme isso se torna obvio. Já a feiticeira parece longe de ser tão poderosa quanto nos quadrinhos, mas várias cenas sugerem sua relação futura com o Visão. A parte dos poderes mágicos ficou de fora da história, mas pode estar lá, escondida, como parte da razão de Thor ser vulneráveis às suas manipulações mentais. No entanto, isso é especulação do nerd old school e não está explícito no filme. 

As batalhas do filme são deliciosas. Talvez um pouco longas, mas isso é por conta do fan service de mostrar ação e encher os olhos com o poder de heróis e vilões, Há trechos que não precisariam estar lá, mas servem tanto para vender action figures quanto para maravilhar os que vão para o cinema só para comer pipoca e gritar para atrapalhar quem está do lado. 

As citações à Wakanda e a participação de Andy Serkys como Ulisses Klaw (com um delicioso sotaque africâner, se você assistir a versão legendada) estão lá e com o gancho para vindouro filme do Pantera Negra. Fora isso, pouco há de referência aos demais componentes do Universo Marvel. Provavelmente o filme evento, por si só, já deveria ser o suficiente. Mas os fãs querem mais. 

No Brasil temos somente a exibição de uma cena de pós-créditos (na verdade, entre créditos), sendo exagerada a notícia de uma segunda cena de pós-créditos. Provavelmente o mesmo caso do filme anterior: a cena da schwarma só foi exibida na versão estadunidense e depois distribuída nas mídias DVD e Blue Ray. Entendo que o estúdio anteceda a estréia do filme para o resto mundo como estratégia, mas reserve algo exclusivo para seu público nativo como uma compensação. 

O final do filme tem várias situações que geram ramificações para cada personagem e consequências a serem exploradas no futuro da Marvel no cinema. 

E a ponta do Stan Lee é ótima e logo no começo. É hilária. Excelsior!!!!




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