segunda-feira, 29 de junho de 2015

Divertidamente divertido


Muita gente na mídia estava decretando o fim da criatividade da Pixar, depois de não termos um filme deles no ano passado, depois de adiarem O Bom Dinossauro e anunciarem mais uma continuação de Toy Story. Muita gente estava dizendo que a Pixar poderia acabar e que as ideias esgotaram e teríamos somente continuações para manter o fluxo de caixa e deixar de arriscar no novo para manter-se no garantido.

Podemos dizer que em relação à Pixar, a única coisa garantida é ir ao cinema e se emocionar, não importa muito sua idade. 

Com Divertida Mente a Pixar calou aqueles que diziam que não havia mais criatividade ali. 

O estúdio que começou como parte da ILM da Lucas Film, passou pelas mãos de Steve Jobs para vender plataformas de trabalho para tratamento de imagens e modelagem e que se tornou sinônimo de qualidade de animação nos surpreendeu quando nos mostrou como seria se brinquedos tivessem sentimentos. Depois, como seria de monstros, carros, heróis,  insetos, robôs, ratos tivessem sentimentos. Agora ficamos surpresos quando vemos que sentimentos podem ter sentimentos. 

A história é uma metáfora do amadurecimento de Reily, uma tipica menina de 11 anos nascida em Minnesota que tem que mudar para São Francisco. 

Nisso, somos apresentados desde o nascimento dela às suas emoções: a Alegria, a Raiva, o Medo, a Tristeza e a Nojinho.

Partindo da premissa do primal, que fazemos e somos motivados para obter prazer ou evitar a dor, esses cinco sentimentos podem expressar tudo. 

O filme demonstra o bruco amadurecimento de Reily pelo processo de amadurecimento dos seus próprios sentimentos, sendo que de cara, você percebe que quem tem mais para aprender, talvez, seja aquela que acha que tem mais a ensinar. E tudo corre por um processo de ruptura. Há quem diga que o amadurecimento vem sempre com processos de ruptura e de questionamento moral, embora em muitos casos seja um processo longo, que passa pela propriocepção e aceitação do eu. 

Há críticas pelo fato de ser uma menina estadunidense e que isso não representaria muito, não se encaixaria na realidade do Brasil, por exemplo, mas não creio que isso seja válido. Fora os "regionalismos" os processos são semelhantes e a identificação com as situações são simples e coerentes. 

Temos a questão dos amigos que deixamos para trás. As coisas que amamos. Os lugares que conhecemos. E conhecer e abraçar o novo, estranhar o novo mundo e não saber seu lugar nesses novos contextos. Como se a alegria desaparecesse e tudo fosse medo, desagrado e raiva. Nem tempo para entristecer existe. Custamos, às vezes, a nos adaptar. E procuramos culpados e tentamos voltar para o que conhecemos, buscando situações familiares e próximas para obter ou voltar para a nossa zona de conforto. 

Visualmente o filme é soberbo. Colorido e desenhado para atender um universo inexistente de organização. Para tanto, os produtores buscaram inspiração na industria alimentícia. Por isso o armazenamento de memórias é literalmente parecido com enormes gôndolas e os tubos nos lembram das enormes esteiras de produtos que vemos em programas sobre fábricas. As memórias seguindo em esteiras me lembraram o documentário sobre o envazamento de Coca-Cola. Quando pesquisei sobre o filme descobri que era verdade, 

As memórias, cada uma com sua cor, lembram as balas de goma. Ou bolinhas de gude. 

A Alegria foi um pequeno desafio para Pixar: seus algoritmos para animação foram criados para desenvolver várias sensações de realidade com  luz e sombra, mas a Alegria é uma fonte de luz e, dessa forma, não tem sombra. Foi necessário reescrever o algoritmo para ela. 

A escolha das cores é condizente com os sentimentos de ficar vermelho de raiva, azul de tristeza, verde de asia, roxo de medo, brilhante como um sol de alegria.

E a maneira como várias coisas são demonstradas é maravilhosa, como o enorme abismo onde vão as memórias, o esquecimento e, mais que isso, a forma como é feita a triagem das memórias que serão descartadas. A piada sobre a mistura de fatos e opiniões da Reily é magnifica. E momentos de realização dos animadores com suas ferramentas, como o caso do pensamento abstrato, te fazem rir por imaginar tudo se tornando cúbico ou geométrico, como uma verdadeira obra de arte abstrata. Até mesmo a sala de comando é uma referência aos estilos dos anos 50 e 60 do sci-fi, lembrando os consoles de séries como Perdidos no Espaço e Viagem ao Fundo do Mar, ao mesmo tempos que você imaginar os Jetsons ou alguma outra obra da Hanna-Barbera homenageada no design.

As piadas sutis vão falar mais aos adultos dos às crianças mas, ainda sim, seus filhos, seus sobrinhos, vão amar o filme que, na verdade, é uma grande aula de psicanálise colorida, divertida e com momentos de emoção que vão te fazer lacrimejar (os mais fortes) e até mesmo chorar (seus manteigas derretidas!). 

Mais detalhamentos e vou começar a spoilar. Logo, vá ver o filme e tire suas próprias conclusões. Preste atenção nos detalhes e, no fim do filme, veja as animações dos sentimentos de vários personagens do filme. Destaque para a professora e o gato, 






sexta-feira, 26 de junho de 2015

Jurassic Zoo..ado


Como falar de um filme que virou sucesso de bilheteria, desbancou Vingadores do topo do record de abertura de fim de semana e de arrecadação nos primeiros nove dias?

Falar que deve sem um filme ótimo e tal.

Só que não é tudo isso.

O filme é, em si, mediano, não é um filme ruim. Tem um focos ótimos e umas tiradas pra se pensar e, por outro lado, tem umas marretadas de roteiro e detalhes de continuidade e história que te fazem pensar no motivo pelo qual você foi ao cinema. Bom... você vai ao cinema assistir Jurassic Word por 1- memória afetiva, você viu o primeiro no cinema ou TV ou no videocassete ou no DVD ou no Blu Ray e 2 - amou ou ama dinossauros ou 3 - é uma criança e crianças amam dinossauros.

A premissa do super zoológico que dá errado é quase a mesma do primeiro filme, só que dessa vez o parque está funcionando e com mais de vinte mil pessoas lá a zica pode ser muito maior.

Podemos colocar que o filme é uma enorme crítica metaforizada no diálogo do Pi com a dona ruiva executiva poderosa do salto de adamantiun (DREPSA):

- Estão felizes? As pessoas, os animais? - Pergunta o Pi.
- As pessoas, com certeza... quanto aos animais.. acho que não temos um método para aferir a felicidade deles... - responde a DREPSA

Mas como o Pi sabe tudo de bicho já fala que tem que olhar nos olhos pra saber. Certeza que ele tava lembrando do Charlie Parker.

Passando pelo parque vemos as muitas críticas ao sistema de zoo e shows com animais. Não sou biólogo e muito menos bichólogo. Gosto de ir ao zoológico mas ao mesmo tempo aquele monte de bicho enjaulado me incomoda. Eu não gosto nem mesmo da ideia de canários ou outro tipo de ave em gaiolas para ouvir seu canto. Mas vemos os pequenos triceratopes servindo de montaria para a criançada, como se fosse passeio de pônei, com sela e tudo. Levando em conta o tamanho de um triceratopes, estamos falando de bebês triceratopes. Bebês animais sendo usados para a diversão humana.

Lá na Argentina, no zoo de Buenos Aires, eles tem focas. Ou leões marinhos, sei lá. E lá você pode comprar a embalagem de sardinhas para jogar pros bichos enquanto eles ficam fazendo momices para ganhar o peixe deles. Aquelas focas passam o dia inteiro sendo alimentadas pela criançada com esses peixes. Tem algo semelhante, com as meninas alimentando o mini-dino com alguma coisa só pra ver a mão melecada de baba de dino.

O passeio entre os dinossauros no melhor estilo Simba-Safári está lá. O espetáculo, sugerido mas não explicitamente exibido, do Tiranossauro Rex comendo a cabra está lá. O show aquático com as orcas... digo, com o dino anfíbio gigante, está lá, lembrando o quanto o ser humano gosta de ter e demonstrar o poder sobre a natureza, esquecendo que ele mesmo está á mercê dela. Sempre, claro, lembrando no filme que animais criados em laboratório com o fim do entretenimento não tem direitos que outros animais tem, como diversos diálogos estão lá para reafirmar isso.

Até o Rei do Crime está lá para querer usar os velociraptors como armas, como já tentaram usar golfinhos e cachorros no passado.

Tudo em nome do lucro e da satisfação dos acionistas, é claro. Apesar do Pi ser o dono e ter uma ideia e um ideal, a administração e a pressão para que o dinheiro flua cai na mão da dona ruiva quase sem coração. Você percebe que é fácil ser idealista quando você passa da fase de se preocupar com dinheiro e contrata e paga outra pessoa para fazer isso, enquanto você pode se preocupar em aprender coisas divertidas, como pilotar helicópteros. Ou cair com eles. :P

Por isso temos o motivo do caos no parque: o dino criado em tubo de ensaio para ser maior, melhor e mais malvado, para atrair multidões sob o patrocínio e, para deixar mais emocionante, com criação em isolamento para deixá-lo ainda mais anti-social e propenso à violência, como ocorre com a maior parte dos seres humanos que sofrem bulling demasiado. Ah, esqueci: grande parte dos seres humanos não precisa passar pela experiência do bulling pra ser violento.

O grande charme do trailer e que atraiu tanta gente pode ser o Senhor das Estrelas correndo de moto com os velociraptors. Meu... véi... até eu quero um velocirapor!!!! E com a positiva premissa de que ele não os "adestrou" como se faz em um circo: ele se integrou aos hábitos dos animais para ser o alfa, o líder, fazer parte do bando e não ser um humano dominante, um domador. Fez como um cara fez com leões. Como vi uma mulher fazer com guepardos. Se integram ao grupo.

Lembrando que a cena virou meme e cuidadores de zoos do mundo todo imitaram e publicaram as fotos. Com esquilos. Com suricatas. Com guaxinins. E com um sem número de animais. A montagem dele separando o Batman Affleck do Superman Cavil tá hilária...

Mas tem as bobagens gigantes do filme.

A bolha de lexan autolimpante... Como? Como, meu santo Isaac Asimov do céu, uma bola de acrílico gigante fica rodando no meio do mato e não se suja? Nem arranha!!! Com aquele monte dinossauro no pasto e não tem um monte de estrume sequer!!! E a bolha de prásticu não se suja!!!

A tal da DREPSA corre na selva, de salto, e não cai. O salto não quebra. Foge do Tiranossauro, de salto, e não cai. E corre rápido a galega! A mulé corre no meio da selva e não se suja! Não transpira!!


Mas pra mim, uma das mancadas foi o Star Lord usar uma carabina Marlin Modelo 1895 SBL em calibre 45-70 Goverment com munição semi-encamisada ponta oca. Hollow Point. Véi... o couro que esses bichos tem tinha que usar munição perfurante. No mínimo. É arma para caçar urso, tudo bem. Mas eu achava que pra derrubar dinossauro ia precisar, no mínimo dos chamados "calibres africanos", daqueles que os selvagens usam pra derrubar os inocentes elefantes. E com projéteis encamisados.

Tem mais mancadas, mas daí vira spoiler. Mas eu descobri que se você quem um jipe, compre um Wrangler 92...

O filme também tem o drama familiar de fundo, que nem precisava estar lá, do meninos lidando com o possível divórcio dos pais, a tia alienada da família, a fase adolescente do meninão querendo aparecer para todas as meninas... "já esteve no parque antes?"

Mas o filme vale a pena ser visto. É divertido. É Sessão da Tarde. É cinema em casa. Você ri bastante e torce pelos mocinhos e sabe que o vilão vai se lascar. E pra ter casal feliz. E pior: vai assistir de novo.

E vai ter continuação.

sábado, 16 de maio de 2015

Uma sinfonia de loucura e fúria



 Mad Max - Estrada da Fúria.

Não, não é o filme da sua vida. Não, não é o filme do ano. Não, não deve ser uma bilheteria assustadora e que vai estabelecer novamente a franquia e gerar mais e mais filmes de Max Rockatansky. Mas como esse filme empolga quem vai ao cinema somente para se divertir!!!! Como esse filme entrega a ação e a violência, a loucura e a distopia de forma a você não sentir o tempo passar. Como o filme juntou uma série de elementos como fotografia e trilha sonora para criar um espetáculo a ser degustado, talvez até mais de uma vez.

A história é básica e rala, é um road movie simples em seu roteiro com algumas particularidades, por isso digo que não há uma história geral que tenha o sustentáculo que a a leve além do filme de ação. Mas ela tem alguma sutilezas que, em um filme com um roteiro mais bem preparado, seria algo ainda mais espetacular. Falta um pouco desenvolver os personagens e dar a eles uma vida que nos faça realmente se importar mais com os clímax do filme. Personagens entram e saem da tela com funcionalidade ou não, mas não empolgam realmente com suas partidas e chegadas. Empolga o espetáculo com que isso acontece e não porque se desenvolveu realmente alguma conexão do público com os personagens.

No fim, como conversava com meu amigo Marcelo Nascimento, produtor cultural e documentarista, é um filme que, no fim das contas, apesar de tudo que mostra, não é violento pela ausência de conexões com os personagens. Seja pelos pouco diálogos, seja porque há pouca clareza em relação às sua motivações: elas existem, mas não são tão exploradas dramaticamente para que você realmente se importe. Por exemplo, Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino tem momentos de violência que são extremados pela conexão construída pela construção dos personagens; afinal, já no começo o Coronel Landa está na fazenda do Sr. Lapadite e é extremamente educado e polido, fala com desenvoltura e simpatia e, ainda assim, é assustador pelo próprio diálogo. Você que ali está um monstro. Em outra sequencia, na morte da atriz que leva os Bastardos ao evento nazista, a cena do estrangulamento choca. Em ambos os casos você sente a violência pois o laço com os personagens foi criado. É do que carece Mad Max.

Não que, para o público médio, isso seja necessariamente um problema, pelo contrário. Tal formula de simplicidade pode cair no gosto do público menos afeito à crítica do cinema como um pudim de padaria que mata a vontade de doce da mesma forma que uma panna cotta.

Ainda sim, existem aquelas sutilezas no roteiro que podemos explorar.

A relação de Max e Furiosa (Charlize Theron) é pouco desenvolvida, mas ainda sim, funcional. Eles formam uma dupla que interage rapidamente e instintivamente se acertam nas ações, como casais que se conhecem há muitos anos conseguem, na linguagem do olhar, no dizer sem dizer. Podemos até mesmo chamar isso de linguagem do guerreiro e não se pode deixar de ver um "quê" de Sr. e Sra. Smith, sem o tom de comédia da referência.

Alguns acusam o filme de ser feminista, de colocar as mulheres no poder. No entanto o que se pode perceber é um filme que mostra igualdade e não a supremacia feminina. Analisando o quadro como um todo, voltamos ao status de Era das Trevas, de uma sociedade patriarcal que oprime as mulheres e as torna objetos nessa sociedade criada na cidadela, sendo literalmente usadas de muitas formas. Mas os estrangeiros capturados também se tornam objetos nessa sociedade. Tudo é algo que acaba por servir ao propósito do status quo, com cada gênero desempenhando um papel. Num mundo que tudo é escasso, ter comida e água, recursos e mulheres saudáveis que possam parir sua prole, controle passa pela tarefa de juntar tudo isso. Controlar recursos, como em qualquer bom jogo de estratégia.

Numa certa altura, se questiona que a guerra que destruiu o mundo foi feita pelos homens. O que, historicamente, sempre foi uma realidade: a guerra é obra dos homens e às mulheres sempre restou ter a fortaleza de manter as coisas em casa e fazer o rescaldo. A mulher sempre teve que ser a maior sobrevivente das guerras travadas pelos homens. Nesse contexto, Furiosa é a mulher que acaba por se igualar aos homens como guerreira e protetora das demais que, no fim, buscam sobreviver a esse novo velho mundo.

Talvez Mad Max tenha se tornado coadjuvantemente de seu próprio filme. Ou talvez apenas tenha chegado a um acordo de igualdade.

Fora a breve particularidade da história simples com sutilezas aqui e ali, no entanto, o filme é espetacular pela grandiosidade da fotografia, com grandes planos abertos e com cenas cujo fundo faz tanto sentido quanto as perseguições. Aí, sim, as perseguições e a destruição na Estrada da Fúria fazem sentido e se conectam, fazendo com que você se prenda na cadeira e queira que tudo pudesse ser acompanhado por uma GoPro.

Para mim, que amo videogames pela sua arte, que gosto de assistir os walkthroughs completos mais do que jogar, o filme tem esse apelo de parecer um grande videogame de ação que entrega o que promete: adrenalina. A distopia de fundo proporciona a visão de um arremedo de civilização recriando um ambiente que lembra muito a idade média. O fanatismo dos kamicrazys de Immortan Joe e nítida psicopatia de seus aliados da Cidade Gasolina e da Fazenda da Bala criam um pastiche de figuras pós-apocalípticas bizarras que nada devem a Mad Max 2. Na verdade, enquanto universo constituído, Mad Max 2 e 3 só contribuem para o visual do novo, dando um certo gosto real de continuidade. E como não lembrar de Mad Max 2?

A trilha sonora de percussão e fortes guitarras, sem uma música com vozes tem uma batida que acompanha a ação de maneira tão complete que traz, novamente a sensação do videogame. Não de qualquer game, mas de game bom. Isso faz que com que a trilha acabe por ser atemporal, o que pode deixar o filme menos datado no decorrer dos anos, ao contrário do que aconteceu com Mad Max 3 - Além da Cúpula do Trovão e sua trilha da Tina Turner. Ainda que o primeiro Mad Max seja mais difícil de passar em qualquer teste do tempo.

Essa trilha bruta e as cenas de ação com fotografia muito bem feita e um 3D sutil que não prejudica a experiência (lembre dos 3D do Michael Bay que tem tantas explosões e sujeira na tela que você perde a noção do que acontece, fica sem poder entender a imagem) fazem com que Mad Max seja uma experiência cinematográfica completa, como na época em que os sons do games eram planejados para bater junto com o coração do jogador e depois fazer com  que o coração do jogador batesse junto com o game.




Então, veja Mad Max - Estrada da Fúria sem preconceitos. Não vá ao cinema esperando nada. E se divirta. Porque é divertido.





Tïtulo Original: Mad Max Road Fury
Lançamento 14 de maio de 2015 (2h0min)
Dirigido por George Miller
Com Tom Hardy, Charlize Theron, Zoë Kravitz
Gênero Ação , Ficção científica
Nacionalidade Austrália , EUA










quarta-feira, 29 de abril de 2015

Neuromancer



Se você nunca ouviu falar de Neuromancer mas assistiu a Trilogia Matrix, pode não saber que é, de longe, uma das principais fontes para a temática ciberpunk dos filmes. Na verdade, é tido como um dos ícones do movimento de sci-fi ciberpunk ao redor do mundo, junto com os contos Johnny Mnemonic e Burning Chrome.

Neuromancer trata de um universo criado ao redor da temática do gangster, do golpista, que levou um grande golpe pois tentou aplicar "O" grande golpe. Se a temática, a trama em si é um dos arquétipos literários clássicos o invólucro criado para essa história não é. Ou não era em 1984, quando tudo em relação ao futuro da informática, da computação e da Era da Informação era especulativo ou, se otimista para a época, hoje meio datado em seus detalhes.

Hoje é conclusivo para muitos estudiosos de história que vivemos a Idade da Informação. Diziam, antes que vivianos a era espacial, mas parece que ela ficou meu perdida com o fim da Guerra Fria, da Corrida Armamentista, a Corrida Espacial. Mas em 1984 o livro já tratava da ideia de que hoje, mais valiosa do que algumas riquezas, é a informação. Saber é poder. A informação deve ser protegida por um lado e deve ser acessível por outro. The spice must flow!

A ideia de cowboys, indivíduos modificados para acessar a Matrix (sim, a Matrix) e navegar de uma maneira muito gráfica e pessoal pelo ciberespaço foi plantada ali, com Neuromancer e Johnny Mnemonic. O indivíduo se conecta e navega por pontes de dados e fluxos de informação, se depara com ICEs (Intrusion Countermesures Eletronics), que hoje são os nossos firewalls e precisam usar os Icebreakers, programas vírus que burlam tais sistemas de segurança, permitindo o acesso do hacker ás informações de grandes zaibatsus, as corporações que controlam economias equivalentes a nações inteiras, cujo poder econômico desce até as sarjetas de da cidade baixa, das vielas, onde se pode comprar qualquer coisa, desde drogas até um pâncreas novo.

Um mundo um tanto próximo das distopias de Philip K. Dick, mas além dentro de sua construção descritiva e detalhada de um ambiente altamente tecnológico e ao mesmo tempo tão sujo e úmido quando um porto, degradado como a área antiga de Santos ou Rio de Janeiro. Quem já andou por área de carga de porto sabe do que eu estou falando. Tudo parece largado, mesmo quando está limpo.

Impossível não associar a descrição de Case, o personagem principal, com Keanu Reeves que viveu New em Matrix mas também foi Johnny Mnemonic naquele filme homônimo que a gente faz questão de esquecer.

Ao mesmo tempo temos a figura de uma razor girl, Molly, que descrita vestida de couro brilhante e as lentes implantadas cirurgicamente nunca permitindo que saibamos a cor de seus olhos, uma guerreira das ruas, alterada com implantes para ser mais rápida, mais mortal, mais precisa. Lâminas de bisturi sob suas umas pintadas com esmalte da cor bordô, bela num corpo esguio e um caminhar felino que parece estar sempre em uma eterna coreografia de arte marcial. Trinity. Como não ver o rosto de Trinity, nossa Carrie Anne Moss, em Molly?

Um grande esquema para bular uma IA de uma grande empresa. O objetivo disso? No fim, libertar essa inteligência. A raiz de uma Skynet? A semente da Matrix?

Temos a figura de Armitage, o contratante, na verdade um Avatar. Um ex-soldado techno que sobreviveu a um experimento francês para recuperar veteranos da Guerra. Uma guera que houve, mas que não interesse à trama. E no fim, o mesmo é um avatar, uma autômato de carne usando uma personalidade sobrescrita criada por Wintermuter, a IA que passou décadas desenhando o seu plano mestre de liberdade. Como um Palpatine insidioso corroendo aos poucos um senado ou pessoas, ou negócios, ou qualquer um que interesse para atingir seus objetivos, calculando as variáveis de comportamento e corrigindo as rotas pelos feedbacks positivos e negativos.

Muitos dos termos que temos hoje saíram do livro. Mas muitos dos termos usados são datados. O exercício de futurologia da época se perde, quando dispositivos de armazenamento de memória como cartuchos, disquetes e fitas não existem mais em profusão como antigamente. Fitas cassete. Existem jovens, hoje, que nunca tiveram a alegria de rebubinar uma fita cassete com uma caneta Bic. telas finas que, hoje, já substituímos até por telas holográficas.

Mas o que mais importa são coisas que ainda podem acontecer, como os simstm.

O que foi chamado de uma experiência de simulação onde personalidades vendem gravações de momentos que outras pessoas gostariam de compartilhar, como festas com outras celebridades, piscinas badaladas, férias em lugares exóticos. Mas não somente a imagens, mas as sensações. VocÊ se conecta a um aparelho parecido com um walkmen ou diskman (que a galera da geração IPod ou MP3 Player não deve saber o que é) e pode ter as sensações, tudo enviado diretamente para o córtex para ter uma experiência sensória completa, como o mergulhar na piscina e o sabor das bebidas, tudo. Como se você estivesse conectado à Matrix! E as pessoas poderiam pagar para saber como uma celebridade se sente, como vive.

Mesmo o conceito de boneca de carne, onde a consciência do corpo pode ser apagada para que nada se lembre do que acontece, o que criou um novo modelo de prostituição.

O conceito do resort espacial apoiado pela ideia do túnel-elevador está lá, também, como uma homenagem a Arthur C. Clarke, e muito bem descrito como espaço tridimensional. A descrição como um ambiente longitudinal como "charuto" me leva, em parte, a um ideia de Rama, como descrita nos romances de Clarke na trilogia de Rama.

Tudo está lá, as bases do que esta geração viu no cinema e TV. O Novo que lido hoje vai dar a sensação os desavisados de que copiou tudo que foi visto nos últimos 20 anos.

Mas foi o contrário. Ler Neuromancer e suas duas "sequencias", Count Zero e Monalisa Overdrive, é ler a fonte.

E é sempre bom saber de onde as coisas vieram.

Nota: a edição de 30 anos lançada pela Aleph traz os três contos anteriores que dão o tom de Neuromancer: Johnny Mnemonic, New Rose Hotel e Burning Chrome, além de uma estrevista completa com Gibson de 1986, quando ainda estava trabalhando em Monalisa Overdrive.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Vingadores 2: A Era do Medo





Já que está todo mundo falando, vamos falar de Vingadores.

Já andamos fazendo um esquenta lá no Interligados, mas depois de ver o filme, impossível não comentar.

E como eu sempre prefiro os vilões, comecemos por ele: Ultron!

Ultron, o Robô Louco, foi criado por Roy Thomas e John Buscema em 1968 e sua primeira aparição em Avengers #54. A primeira versão de Ultron foi construída por Henry Pym, o Homem-Formiga original. O genial cientista fazia experiências com robôs superinteligentes, ainda quando não tínhamos exatamente o conceito de inteligência artificial,  quando sua criação adquiriu consciência e se rebelou. A mente de Ultron foi mudada a partir das ondas cerebrais de seu mestre Henry Pym. Depois de ser rebelar, o robô apagou sua própria origem da mente de seu criador e fez uma séries de upgrades em si mesmo e posteriormente tivemos várias versões de Ultron.

Pelo época de sua criação, não podemos deixar de fazer o paralelo com o HAL de 2001: Uma Odisseia no Espaço. 

Ultron sempre foi um dos grandes vilões da galeria dos Vingadores, voltando em versões cada vez mais inusitadas e com os upgrades tecnológicos mais surpreendentes. É como se cada novidade de sci-fi para produção de alguma tecnologia pudesse ser incorporada pela inteligência artificial de Ultron e sua necessidade de um corpo físico mais e mais evoluído. 

Ultron deseja evoluir, transcender seu criador e sua espécie. 

Nesse ponto, podemos falar do Ultron do cinema e as mudanças de sua origem para mudar o cenário do universo cinematográfico da Marvel.

Vingadores 2: Era de Ultron é a consequência de tudo que aconteceu nos filmes anteriores. A Batalha de Nova York mudou tudo. A Terra descobriu pela televisão que existe vida alienígena inteligente e que eles são como sempre foram mostrados no cinema de sci-fi: perigosos conquistadores. Como Tony Stark foi o único que passou pelo portal gerado pelo Tesseract e viu o poderio Chitauri, desenvolveu uma série de processos psicológicos de medo e necessidade de preparar o futuro. Homem de Ferro 3 mostra parte dessas consequências com a necessidade desenvolvida por ele de proteger a mulher que ama das reminiscências de sua vida pregressa. O programa da armadura para proteger Pepper Pots é uma prova disso. 

Temos um Tony Stark que ainda carrega a culpa das vidas que destruiu como fabricante e vendedor de armas e encara o sentimento de impotência diante de ameças cada vez maiores e mais perigosas. Isso o faz angariar para si a responsabilidade de proteger o mundo e desenvolver os meios para isso, como se isso fosse a maneira de sanar a dor que causou e redimir sua irresponsabilidade e ignorância em relação ao seu papel no mundo, como humano, empresário e herói.

Perceber que não poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo o leva a criar um pequeno exército autômato para ajudar os Vingadores em suas missões contra a HIDRA e demais ameaças. 

Nesse ponto, o centro de Loki tem papel fundamental e, a partir dele, Tony e Bruce Banner começam a desenvolver uma inteligência artificial que pudesse fazer o que eles não podem: estar em todos os lugares e colocar uma "armadura" em torno da Terra. 

Dessa forma, o medo do fracasso, o medo da perda, e o medo de repetir os erros do passado leva Tony Stark a, acidentalmente, criar Ultron. 

Ultron a partir desse momento se torna o mais próximo de um Cylon de Battlestar Galactica, a criatura que deseja seguir parte de seu programa original e determina que para haver paz deve haver evolução. E no melhor darwinismo, evoluir ou morrer, se adaptar ou deixar de merecer a existência e, assim, Ultron busca os meios de ser, para a raça humana, o que aquele grande meteoro foi para os dinossauros. 
O Ultron de Josh Whedon não é o mesmo robô louco megalomaníaco dos quadrinhos. Há momentos em que ele está confuso, divaga, e deixa escapar a necessidade de se provar melhor que seu criador, como um filho que não deseja estar à sombra do pai, lembrando a máxima de que os filhos devem matar os pais para serem autossuficientes e adentrarem a vida adulta. No nosso desenvolvimento isso é subjetivo e metafórico, representado com o momento em que laços são cortados, como quando se sai de casa para formar o próprio núcleo familiar ou para criar a própria história em carreira e vida. Ultron quer realizar isso de forma real, matando o criador e assumindo seu lugar, se mostrando a evolução lógica de uma espécie. 

Em suma, um cylon. Uma Skynet. A Matrix. 

E em seu desejo de superar o criador e evoluir, fornece os meios para a criação do Visão. 

Nos quadrinhos, o Visão é um sintosóide criado por Ultron para ser a forma de vida perfeita e enfrentar e destruir os Vingadores, mas ele se volta contra o seu criador ao tomar consciência real do certo e do erado, ao desenvolver uma moral humana. No filme ele é criado como um invólucro. Mais que isso é spoiler. Mas temos um Paul Bettany vermelho que ficou muito legal. 

E mantendo o mito do herói, todos na equipe acabam por ter que lidar com seus medos e sair melhores, preparados para enfrentar um inimigo que os sobrepujou e manipulou e, mais que isso, os afronta com suas falhas, seja explorando a culpa de uma assassina ou as responsabilidades do herdeiro de um trono cósmico ou a culpa de um monstro. 

Temos um gavião arqueiro que se torna uma peça de coesão, revelando uma face que só é vista no Gavião Arqueiro agente da S.H.I.E.L.D. do Universo Ultimate da Marvel. É inesperado, e de certa forma, deslocado, o momento da apresentação de um lado de Clint Barton que ninguém conhecia, como um Batman revelando para uma Liga da Justiça perplexa que é Bruce Wayne e que já sabia as identidades de cada ("Claro que sei quem são. Eu não trabalharia em equipe com quem não conheço"). Até o momento da "mensagem" do filme em que faz piada sobre ser o homem sem poderes com um arco é interessante, embora meio piegas. Mas heróis são chatinhos, mesmo. 

A fadiga na relação entre Steve Rogers, o Capitão América, e Tony Stark se desenvolve desde o começo do filme, plantando as óbvias sementes para Capitão América 3: Guerra Civil. Algumas são sutis, outras escancaradas, mas estão todas lá. A frase "O homem que queria uma família e tudo mais... eu acho que morreu há 75 anos" mostra um novo Steve Rogers, rompendo com seu passado e assumindo deveres de seu papel como soldado e protetor, meio, talvez, deixando as ilusões de lado para ver o mundo como ele é e não como deveria ser, numa alusão, quiçá, ao discurso de Nick Fury em Capitão América 2: Soldado Invernal. 

Temos vislumbres do passado da Viúva Negra, de como Natasha Romanoff passou pelo projeto Viúva Negra para se tornar A Viúva Negra, e seu jeito de buscar deixar um passado negro para trás, mas, como um Tony Stark, lembrando que o passado existe para assombrar. Sua relação com Bruce Banner, o Hulk, evoluí de forma nítida para o que ela mesma parece classificar como uma união de monstros. 


A participação dos gêmeos Maximoff é interessante e, verdade seja dita, Mercúrio tem uma participação mais apagada, quase como se estivesse ali apenas para fazer número e me parece pouco aproveitado. No decorrer do filme isso se torna obvio. Já a feiticeira parece longe de ser tão poderosa quanto nos quadrinhos, mas várias cenas sugerem sua relação futura com o Visão. A parte dos poderes mágicos ficou de fora da história, mas pode estar lá, escondida, como parte da razão de Thor ser vulneráveis às suas manipulações mentais. No entanto, isso é especulação do nerd old school e não está explícito no filme. 

As batalhas do filme são deliciosas. Talvez um pouco longas, mas isso é por conta do fan service de mostrar ação e encher os olhos com o poder de heróis e vilões, Há trechos que não precisariam estar lá, mas servem tanto para vender action figures quanto para maravilhar os que vão para o cinema só para comer pipoca e gritar para atrapalhar quem está do lado. 

As citações à Wakanda e a participação de Andy Serkys como Ulisses Klaw (com um delicioso sotaque africâner, se você assistir a versão legendada) estão lá e com o gancho para vindouro filme do Pantera Negra. Fora isso, pouco há de referência aos demais componentes do Universo Marvel. Provavelmente o filme evento, por si só, já deveria ser o suficiente. Mas os fãs querem mais. 

No Brasil temos somente a exibição de uma cena de pós-créditos (na verdade, entre créditos), sendo exagerada a notícia de uma segunda cena de pós-créditos. Provavelmente o mesmo caso do filme anterior: a cena da schwarma só foi exibida na versão estadunidense e depois distribuída nas mídias DVD e Blue Ray. Entendo que o estúdio anteceda a estréia do filme para o resto mundo como estratégia, mas reserve algo exclusivo para seu público nativo como uma compensação. 

O final do filme tem várias situações que geram ramificações para cada personagem e consequências a serem exploradas no futuro da Marvel no cinema. 

E a ponta do Stan Lee é ótima e logo no começo. É hilária. Excelsior!!!!




quarta-feira, 15 de abril de 2015

Rei do Crime



Vamos falar da mais nova série da Marvel e a primeira da parceria com o Netflix a ser lançada: rei do Crime.




É.. devia ser esse o nome, mas é a série do herói cego, o Demolidor.



O Demolidor foi criado por Stan Lee e Bill Everett em 1964 já em revista própria. O nome original, Daredevil, em tradução direta "diabo ousado", pode ser melhor adaptado como simplesmente "ousado" ou "destemido".



Matthew "Matt" Michael Murdock perdeu a visão aos 9 anos de idade ao salvar um cego de um atropelamento. No acidente, o caminhão envolvido transportava lixo tóxico que atingiu seus olhos, lhe tirando a visão e ampliando todos os seus sentidos e lhe dando um tipo de "sonar-radar" que lhe permite "ver" o mundo ao seu redor de maneira tridimensional, lhe dando uma percepção única do mundo.





Seu pai, Jack "Batalhador" Murdock, era um boxeador sem muita sorte e acabou morto por não entregar uma luta.

Depois de um tempo de treinamento com o velho mestre cego Stick, Matt acaba por controlar seus poderes e leva sua vida adiante, se forma em direito e monta uma firma de advocacia com seu melhor amigo, Foggy Nelson.

Mas com o tempo, Matt acaba por se tornar um combatente mascarado do crime, usando seus poderes para defender seu bairro, a Cozinha do Inferno, o Hell's Kitchen.

O principal inimigo do Demolidor é Wilson Fisk, o Rei do Crime. Embora tenha surgido na histórias do Homem-Aranha, foi com o Demolidor que o Rei do Crime se estabeleceu e foi com Frank Miller que o vilão se torna o grande opositor tanto do herói quanto do advogado.

Agora, depois de décadas de quadrinhos, algumas aparições em animações e um filme mediano para cinema o Homem sem Medo recebe uma série de TV pelo NEtflix.

E o resultado é impressionante.

A fidelidade à várias coisas dos quadrinhos é um banquete para os fãs antigos e novos e os easter eggs do universo Marvel de cinema e TV.

Mas mesmo assim o grande trunfo da série é o desenvolvimento dos personagens.

Todos os personagens tem sua linha de desenvolvimento, suas motivações e seus questionamentos.

Este Matt Murdock tem expressa sua indecisão, duas dúvidas sobe suas ações e como isso pode alterar sua própria trajetória e o que ele quer representar para sua cidade. Foggy Nelson não é apenas um apoio cômico, há uma razão para estar lá. Karen Page não é apenas a loira bonita que está lá para ser protegida.

Os flashbacks do treinamento de Matt com Stick trazem o saudosismo do roteiro de Frank Miller e o enfrentamento do Demolidor com seu primeiro ninja, que usa a toga vermelha de um mestre do Tentáculo e não de um genin comum só faz pensar no futuro da série em suas futuras possíveis temporadas.

E é saboroso procurar os detalhes nos encontros do Demolidor com Melvin Potter, o Gladiador. As serras circulares, os desenhos e projetos... e ficar pensando onde será aberta a loja de fantasias de Melvin.

Os diálogos e questionamentos morais da vida de Matt trazem toda a carga de várias histórias de Denny O'Neill e ainda mais dos recentes arcos do herói.

Mas é o Wilson Fisk de Vincent D'Onofrio que mais surpreende. O vilão complexo e desenvolvido, motivado e, acima de tudo, convencido de que o que está fazendo é o certo, leva a um patamar elevado o antagonismo com o herói, assumindo a face de nêmese completo, o outro lado da moeda, quando herói e vilão representam, realmente, os dois lados da mesma moeda. Impossivel, depois de ver a série, imaginar outro ator para interpretar Wilson Fisk. No momento de fúria em que o vilão confronta Ben Urich (outro personagem espetacularmente bem montado) você ainda consegue ver o lampejo de insanidade do Gomer Pyle de Nascido Para Matar.

A série constrói o vilão de maneira magistral e me faz lembrar do motivo pelo qual detestei o sexto filme da série Harry Potter, onde o vilão, complexo e bem estruturado nos livros, com todas as motivações explicadas, se torna apenas um menino revoltado do orfanato que foi rejeitado pelo pai. Aqui a relação é explorada de tal forma que não como não tem empatia pela história do vilão, inclusive pelo desenvolvimento do romance entre Wilson e Vanessa. .

Assim, dessa forma, de cena roubada e com certa justiça, podemos dizer que essa série poderia ser batizada de Hell's Kitchen... ou Kingpin!!


Título originalMarvel's Daredevil
Criado por (2015)
ComCharlie CoxRosario DawsonVincent D'Onofrio 
PaísEUA
GêneroDramaFantasiaAção
StatusEm produção
Duração52 minutos


domingo, 5 de abril de 2015

O Sétimo Filho

Ok. Fui ver o filme. Li alguma críticas antes e fiquei com a sensação de que era bem isso: uma adaptação de livre de fantasia bem elabora mas com roteiro falho e ruim e atuações aquém do elenco estelar conhecido.
E não tão ruim quanto eu pensava, embora esteja longe de ser bom.
Vamos começar pela história.
Numa Idade Média não definida, temos a figura das bruxas e feiticeiras e dos caça feitiços. Algumas são más e querem acabar com o mundo ou dominá-lo. Os caça feitiços, sempre o sétimo filho de um sétimo filho, estão lá para impedir.
Jeff Bridges é o último deles, fica meio óbvio, e ele tem que formar um aprendiz. Claro,
A Rainha Malkin de Julianne Moore é uma vilã feiticeira que se torna um dragão. Ah, sim, as feiticeiras e feiticeiros desse "mundo" são todos "animagos" que se transformam em alguma coisa.
O roteiro é fluido, segue, mas tem muitos lugares comuns, muita coisa óbvia, muito clichê.
Daqui para diante, spoiler de todo tipo, leia por sua conta e risco.
Repetindo o papel de Rooster Cogburn, mas em outro tempo e local, que já era reprise do papel de Wild Bill de 95. 

O menino desconhecido e sem graça que se torna o aprendiz de um Jeff Bridges que está cansativo, interpretando o mesmo papel de velho calejado rabugento de sempre, começa atirando facas e errando. Fica claro que, respeitando a jornada do herói, esse é o marco da transição dele: somente quando ele acertar o arremesso de faca ele está pronto, será o herói.
Temos a mocinha, a filha de feiticeira, tão sem graça que quando você descobre que o papel da mãe dela no filme é da Antji Traue, a Faora do Man of Steel, você entra no clássico caso de melhor pegar a mãe que a filha. A tal Vikander perde de longe para Traue.
Isso parece pouco em uma produção desse tamanho, mas se a mocinha é aguada demais... não vira.
Se eu fosse sétimo filho e tivesse uma sogra assim... 
... desculpa... mas a filha sem graça rodava rápido... Eita casal sem expressão!!!!
Aí temos Julianne Moore.
Ah, que mulher!!!
Ah, que papel sem graça!!!
A vilã, embora tenha motivação não consegue passar algo mais impactante para o expectador. Sem uma vilã que exprima realmente sua maldade, seja adquirida ou herdada, fica complicado. Mesmo com todas as explicações sobre o passado dela e de Gregory Bridges, não se convence que há a tensão necessária ali para justificar tudo, Para atores bons, podemos entender que o diretor que falhou ali, seja por falta de pulso ou por achar que os medalhões fariam a parte deles sem esforço.
Nas palavras de um amigo "Julianne Moore, também, não recusa papel... "
Quando descobrimos que o seu moço ainda é filho de feiticeira além de ser sétimo filho, temos o prometido, aquele tem o pé nos dois mundos,  o predestinado. Óbvio desde o começo do filme quando a mãe lhe entrega um amuleto idêntico ao que o Mestre dos Magos deu para Bob, o Bárbaro e que este deu para o gigante enfrentar o Vingador.
Claro que o amuleto se perde, o amuleto é achado. Claro que a feiticeira filha vai ter um estalo mágico ao tocar o prometido, um momento Brida para completar o filme.
A parte boa é que os combates são ótimos, a fotografia é boa e não economizaram filtros. Visualmente é ótimo de se ver.
Momento Photoshop de Julianne Moore
Só quando a Rainha Malkin está usando o poder do amuleto para seduzir Gregory temos aquele momento Photoshop de Julianne Moore, que deve estar previsto em contrato, onde todas as rugas somem e ela aparece perfeita e iluminada, num sonho sem rugas.
Acho Julianne Moore uma das mulheres mais belas do cinema de sua geração. Mas também acho essa cena desnecessária. Mas que vá. É o momento do feitiço parar no meio e Gregory acordar, como bêbado que acorda pra vida quando acha o artefato mágico do travesti que está beijando.
Eu juro que queria ter gostado mais.
Mas confesso que poderia ser pior.
Tem todos os elementos de fantasia lá. Deve ser por isso que sabemos o rumo das coisas.
Mas o que realmente incomoda é que, aparentemente, a região geográfica é enorme e eles tem apenas 5 dias para chegar no castelo da Rainha Malkin e dar jeito em tudo. De carroça e à pé, não dá. Os tempos e distâncias apresentados me incomodaram. E muito.
Dá pra assistir se você não for um crítico tão chato quanto eu.