segunda-feira, 29 de junho de 2015

Divertidamente divertido


Muita gente na mídia estava decretando o fim da criatividade da Pixar, depois de não termos um filme deles no ano passado, depois de adiarem O Bom Dinossauro e anunciarem mais uma continuação de Toy Story. Muita gente estava dizendo que a Pixar poderia acabar e que as ideias esgotaram e teríamos somente continuações para manter o fluxo de caixa e deixar de arriscar no novo para manter-se no garantido.

Podemos dizer que em relação à Pixar, a única coisa garantida é ir ao cinema e se emocionar, não importa muito sua idade. 

Com Divertida Mente a Pixar calou aqueles que diziam que não havia mais criatividade ali. 

O estúdio que começou como parte da ILM da Lucas Film, passou pelas mãos de Steve Jobs para vender plataformas de trabalho para tratamento de imagens e modelagem e que se tornou sinônimo de qualidade de animação nos surpreendeu quando nos mostrou como seria se brinquedos tivessem sentimentos. Depois, como seria de monstros, carros, heróis,  insetos, robôs, ratos tivessem sentimentos. Agora ficamos surpresos quando vemos que sentimentos podem ter sentimentos. 

A história é uma metáfora do amadurecimento de Reily, uma tipica menina de 11 anos nascida em Minnesota que tem que mudar para São Francisco. 

Nisso, somos apresentados desde o nascimento dela às suas emoções: a Alegria, a Raiva, o Medo, a Tristeza e a Nojinho.

Partindo da premissa do primal, que fazemos e somos motivados para obter prazer ou evitar a dor, esses cinco sentimentos podem expressar tudo. 

O filme demonstra o bruco amadurecimento de Reily pelo processo de amadurecimento dos seus próprios sentimentos, sendo que de cara, você percebe que quem tem mais para aprender, talvez, seja aquela que acha que tem mais a ensinar. E tudo corre por um processo de ruptura. Há quem diga que o amadurecimento vem sempre com processos de ruptura e de questionamento moral, embora em muitos casos seja um processo longo, que passa pela propriocepção e aceitação do eu. 

Há críticas pelo fato de ser uma menina estadunidense e que isso não representaria muito, não se encaixaria na realidade do Brasil, por exemplo, mas não creio que isso seja válido. Fora os "regionalismos" os processos são semelhantes e a identificação com as situações são simples e coerentes. 

Temos a questão dos amigos que deixamos para trás. As coisas que amamos. Os lugares que conhecemos. E conhecer e abraçar o novo, estranhar o novo mundo e não saber seu lugar nesses novos contextos. Como se a alegria desaparecesse e tudo fosse medo, desagrado e raiva. Nem tempo para entristecer existe. Custamos, às vezes, a nos adaptar. E procuramos culpados e tentamos voltar para o que conhecemos, buscando situações familiares e próximas para obter ou voltar para a nossa zona de conforto. 

Visualmente o filme é soberbo. Colorido e desenhado para atender um universo inexistente de organização. Para tanto, os produtores buscaram inspiração na industria alimentícia. Por isso o armazenamento de memórias é literalmente parecido com enormes gôndolas e os tubos nos lembram das enormes esteiras de produtos que vemos em programas sobre fábricas. As memórias seguindo em esteiras me lembraram o documentário sobre o envazamento de Coca-Cola. Quando pesquisei sobre o filme descobri que era verdade, 

As memórias, cada uma com sua cor, lembram as balas de goma. Ou bolinhas de gude. 

A Alegria foi um pequeno desafio para Pixar: seus algoritmos para animação foram criados para desenvolver várias sensações de realidade com  luz e sombra, mas a Alegria é uma fonte de luz e, dessa forma, não tem sombra. Foi necessário reescrever o algoritmo para ela. 

A escolha das cores é condizente com os sentimentos de ficar vermelho de raiva, azul de tristeza, verde de asia, roxo de medo, brilhante como um sol de alegria.

E a maneira como várias coisas são demonstradas é maravilhosa, como o enorme abismo onde vão as memórias, o esquecimento e, mais que isso, a forma como é feita a triagem das memórias que serão descartadas. A piada sobre a mistura de fatos e opiniões da Reily é magnifica. E momentos de realização dos animadores com suas ferramentas, como o caso do pensamento abstrato, te fazem rir por imaginar tudo se tornando cúbico ou geométrico, como uma verdadeira obra de arte abstrata. Até mesmo a sala de comando é uma referência aos estilos dos anos 50 e 60 do sci-fi, lembrando os consoles de séries como Perdidos no Espaço e Viagem ao Fundo do Mar, ao mesmo tempos que você imaginar os Jetsons ou alguma outra obra da Hanna-Barbera homenageada no design.

As piadas sutis vão falar mais aos adultos dos às crianças mas, ainda sim, seus filhos, seus sobrinhos, vão amar o filme que, na verdade, é uma grande aula de psicanálise colorida, divertida e com momentos de emoção que vão te fazer lacrimejar (os mais fortes) e até mesmo chorar (seus manteigas derretidas!). 

Mais detalhamentos e vou começar a spoilar. Logo, vá ver o filme e tire suas próprias conclusões. Preste atenção nos detalhes e, no fim do filme, veja as animações dos sentimentos de vários personagens do filme. Destaque para a professora e o gato, 






sexta-feira, 26 de junho de 2015

Jurassic Zoo..ado


Como falar de um filme que virou sucesso de bilheteria, desbancou Vingadores do topo do record de abertura de fim de semana e de arrecadação nos primeiros nove dias?

Falar que deve sem um filme ótimo e tal.

Só que não é tudo isso.

O filme é, em si, mediano, não é um filme ruim. Tem um focos ótimos e umas tiradas pra se pensar e, por outro lado, tem umas marretadas de roteiro e detalhes de continuidade e história que te fazem pensar no motivo pelo qual você foi ao cinema. Bom... você vai ao cinema assistir Jurassic Word por 1- memória afetiva, você viu o primeiro no cinema ou TV ou no videocassete ou no DVD ou no Blu Ray e 2 - amou ou ama dinossauros ou 3 - é uma criança e crianças amam dinossauros.

A premissa do super zoológico que dá errado é quase a mesma do primeiro filme, só que dessa vez o parque está funcionando e com mais de vinte mil pessoas lá a zica pode ser muito maior.

Podemos colocar que o filme é uma enorme crítica metaforizada no diálogo do Pi com a dona ruiva executiva poderosa do salto de adamantiun (DREPSA):

- Estão felizes? As pessoas, os animais? - Pergunta o Pi.
- As pessoas, com certeza... quanto aos animais.. acho que não temos um método para aferir a felicidade deles... - responde a DREPSA

Mas como o Pi sabe tudo de bicho já fala que tem que olhar nos olhos pra saber. Certeza que ele tava lembrando do Charlie Parker.

Passando pelo parque vemos as muitas críticas ao sistema de zoo e shows com animais. Não sou biólogo e muito menos bichólogo. Gosto de ir ao zoológico mas ao mesmo tempo aquele monte de bicho enjaulado me incomoda. Eu não gosto nem mesmo da ideia de canários ou outro tipo de ave em gaiolas para ouvir seu canto. Mas vemos os pequenos triceratopes servindo de montaria para a criançada, como se fosse passeio de pônei, com sela e tudo. Levando em conta o tamanho de um triceratopes, estamos falando de bebês triceratopes. Bebês animais sendo usados para a diversão humana.

Lá na Argentina, no zoo de Buenos Aires, eles tem focas. Ou leões marinhos, sei lá. E lá você pode comprar a embalagem de sardinhas para jogar pros bichos enquanto eles ficam fazendo momices para ganhar o peixe deles. Aquelas focas passam o dia inteiro sendo alimentadas pela criançada com esses peixes. Tem algo semelhante, com as meninas alimentando o mini-dino com alguma coisa só pra ver a mão melecada de baba de dino.

O passeio entre os dinossauros no melhor estilo Simba-Safári está lá. O espetáculo, sugerido mas não explicitamente exibido, do Tiranossauro Rex comendo a cabra está lá. O show aquático com as orcas... digo, com o dino anfíbio gigante, está lá, lembrando o quanto o ser humano gosta de ter e demonstrar o poder sobre a natureza, esquecendo que ele mesmo está á mercê dela. Sempre, claro, lembrando no filme que animais criados em laboratório com o fim do entretenimento não tem direitos que outros animais tem, como diversos diálogos estão lá para reafirmar isso.

Até o Rei do Crime está lá para querer usar os velociraptors como armas, como já tentaram usar golfinhos e cachorros no passado.

Tudo em nome do lucro e da satisfação dos acionistas, é claro. Apesar do Pi ser o dono e ter uma ideia e um ideal, a administração e a pressão para que o dinheiro flua cai na mão da dona ruiva quase sem coração. Você percebe que é fácil ser idealista quando você passa da fase de se preocupar com dinheiro e contrata e paga outra pessoa para fazer isso, enquanto você pode se preocupar em aprender coisas divertidas, como pilotar helicópteros. Ou cair com eles. :P

Por isso temos o motivo do caos no parque: o dino criado em tubo de ensaio para ser maior, melhor e mais malvado, para atrair multidões sob o patrocínio e, para deixar mais emocionante, com criação em isolamento para deixá-lo ainda mais anti-social e propenso à violência, como ocorre com a maior parte dos seres humanos que sofrem bulling demasiado. Ah, esqueci: grande parte dos seres humanos não precisa passar pela experiência do bulling pra ser violento.

O grande charme do trailer e que atraiu tanta gente pode ser o Senhor das Estrelas correndo de moto com os velociraptors. Meu... véi... até eu quero um velocirapor!!!! E com a positiva premissa de que ele não os "adestrou" como se faz em um circo: ele se integrou aos hábitos dos animais para ser o alfa, o líder, fazer parte do bando e não ser um humano dominante, um domador. Fez como um cara fez com leões. Como vi uma mulher fazer com guepardos. Se integram ao grupo.

Lembrando que a cena virou meme e cuidadores de zoos do mundo todo imitaram e publicaram as fotos. Com esquilos. Com suricatas. Com guaxinins. E com um sem número de animais. A montagem dele separando o Batman Affleck do Superman Cavil tá hilária...

Mas tem as bobagens gigantes do filme.

A bolha de lexan autolimpante... Como? Como, meu santo Isaac Asimov do céu, uma bola de acrílico gigante fica rodando no meio do mato e não se suja? Nem arranha!!! Com aquele monte dinossauro no pasto e não tem um monte de estrume sequer!!! E a bolha de prásticu não se suja!!!

A tal da DREPSA corre na selva, de salto, e não cai. O salto não quebra. Foge do Tiranossauro, de salto, e não cai. E corre rápido a galega! A mulé corre no meio da selva e não se suja! Não transpira!!


Mas pra mim, uma das mancadas foi o Star Lord usar uma carabina Marlin Modelo 1895 SBL em calibre 45-70 Goverment com munição semi-encamisada ponta oca. Hollow Point. Véi... o couro que esses bichos tem tinha que usar munição perfurante. No mínimo. É arma para caçar urso, tudo bem. Mas eu achava que pra derrubar dinossauro ia precisar, no mínimo dos chamados "calibres africanos", daqueles que os selvagens usam pra derrubar os inocentes elefantes. E com projéteis encamisados.

Tem mais mancadas, mas daí vira spoiler. Mas eu descobri que se você quem um jipe, compre um Wrangler 92...

O filme também tem o drama familiar de fundo, que nem precisava estar lá, do meninos lidando com o possível divórcio dos pais, a tia alienada da família, a fase adolescente do meninão querendo aparecer para todas as meninas... "já esteve no parque antes?"

Mas o filme vale a pena ser visto. É divertido. É Sessão da Tarde. É cinema em casa. Você ri bastante e torce pelos mocinhos e sabe que o vilão vai se lascar. E pra ter casal feliz. E pior: vai assistir de novo.

E vai ter continuação.